Dia destes, retornava do trabalho, cansada e com pressa de chegar em casa para tomar um banho morno, fazer uma refeição leve, dar uma descansadinha e depois encarar algumas tarefas domésticas triviais, daquelas que todos nós temos que realizar ao chegar no lar.
Para meu dissabor, quando já estava há alguns quarteirões de casa, peguei um engarrafamento fenomenal e fiquei presa no trânsito. Obviamente que minha contrariedade me fazia recriminações: se eu não tivesse me atrasado não teria pego este trânsito caótico, ou então, se tivesse andado mais depressa, ou coisas do gênero.
O frio era intenso, e a chuva que já caia forte, desabou torrencialmente. O trânsito estava paralisado e ninguém sabia ao certo quais as razões daquela situação. E, logo ali, um pouco mais adiante, encontrava-se tudo o que eu queria alcançar naquele momento: Minha casa, que na circustância, representava o melhor lugar do mundo para mim….e estava, tão perto e tão longe, ao mesmo tempo.
E o que se faz numa hora dessas? Sozinha dentro de um veículo, só resta aguardar que as coisas tomem um rumo, e o pior, este rumo, independe de providências suas. Você é um elemento que faz parte do contexto e por menos que voce goste, não tem alterantiva: precisa esperar.
Por mais que se olhe as coisas pelo lado positivo, num momento assim, bate uma insatisfação, um desânimo e você pensa, com uma obsessão enorme, naquela sopa quentinha, naquele chá fumegante e no seu aconchegante pijama de malha e tudo isso passa a ter um valor inestimável. Quando você, finalmente conseguir sair dali e chegar em casa, com certeza tudo isso vai estar lá..
Pela minha cabeça passaram mil coisas e eu fui ficando cada vez mais impaciente e já estava muito irritada, quando olhei, casualmente, para o lado e vi um ônibus lotado de gente. Passageiros em pé, espremidos, uns contra os outros, suportavam os longos momentos incômodos, com os braços erguidos para se manterem apoiados. Vislumbrei a fisionomia do motorista, que assim como os passageiros, exibia um semblante de exaustão e resignação.
Sai do meu mundo, do meu carro, do meu “pseudo-incômodo” e diante da situação daquelas pessoas fiquei comovida e sensibilizada. Se para mim estava sendo desagradável, o que não estariam sentindo aquelas pessoas, que assim como eu, haviam trabalhado, estudado ou se ocupado com seus afazeres durante o dia e que se encontravam, naquele instante, exaustas e sem o mínimo conforto, mas que se viam, assim como eu, sem outra saída, a não ser a longa e monótona espera.
Quantas preocupações não possuíam: quando o trânsito iria se restabelecer, se o filho tinha saído da escola e voltado para casa, que haviam se atrasado para preparar o jantar, e tantas outras coisas.
Neste momento, senti desconforto por estar irritada e tive uma imediata empatia pelos viajantes vizinhos e por todos os que se encontravam em idêntica situação.Fiz uma rápida reflexão e conclui que precisava aceitar com mais paciência os imprevistos com que a vida me surpreendia e manifestar gratidão, pois estava usufruindo de um conforto que tornava meus momentos ruins, mais fáceis de aguentar.
Passados alguns minutos, o trânsito voltou à normalidade e todos se foram, cada um, protagonizar sua própria história e construir seu destino.
Amanhã, sempre será um novo dia, com novas experiência, novas lições e novos desafios para o crescimento. O importante é que temos infinitas oportunidades de aprendizado, basta desviar um pouco o olhar de nós e contemplar o cenário ao lado. Sempre vamos encontrar pessoas que estão em situação pior que a nossa e por isso, a nossa reclamação não faz o menor sentido. O melhor seria pensar o que poderíamos fazer para ajudar o próximo.
A Aprendiz
Vivendo e aprendendo.