Reflexão

30 FÁBULAS DE ESOPO com moral

Esopo foi um fabulista grego considerado o pai do gênero Fábula – histórias curtas e simples protagonizadas por animais com o objetivo de passar uma lição de moral para o leitor.
Os personagens apresentados nas fábulas representam virtudes ou vícios humanos. Geralmente, a raposa é esperta, a formiga é trabalhadora, a cigarra é preguiçosa, o burro, ingênuo, e assim por diante. Desse modo, cada animal representa uma ou mais formas de se comportar.
As fábulas de Esopo inspiraram diversos escritores como o francês La Fontaine e o brasileiro Monteiro Lobato. Porém, pode ser que Esopo não tenha existido: se especula que, na verdade, às fabulas de Esopo sejam apenas um compilado de Fábulas contadas na Grécia antiga, criadas pela sabedoria popular.

1. A Formiga e a Pomba

Uma formiga foi à margem do rio para beber água e, sendo arrastada pela forte correnteza, estava prestes a se afogar.
Uma pomba que estava numa árvore sobre a água, arrancou uma folha e a deixou cair na correnteza perto dela. A formiga subiu na folha e flutuou em segurança até a margem.

Pouco tempo depois, um caçador de pássaros veio por baixo da árvore e se preparava para colocar varas com visgo perto da pomba que repousava nos galhos alheia ao perigo.

A formiga, percebendo sua intenção, deu-lhe uma ferroada no pé. Ele repentinamente deixou cair sua armadilha e, isso deu chance para que a pomba voasse para longe a salvo.

Moral: Quem é grato de coração sempre encontrará oportunidades para mostrar sua gratidão.

Esopo

2. O Filhote de Cervo e sua Mãe

Certa vez um jovem cervo conversava com sua mãe:

– Mãe você é maior que um lobo, é também mais veloz, por que então você os teme tanto?

A mãe amargamente sorriu e disse:

– Tudo que você falou é verdade meu filho, mesmo assim quando eu escuto um simples latido de lobo, me sinto fraca e só penso em correr o mais que puder.

Moral: Para a maioria das pessoas, é mais cômodo conviver com seus medos e fraquezas, mesmo sabendo que podem superá-los.

Esopo

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3. O Lobo e a Garça

Um Lobo, tendo se engasgado com um pedaço de osso, contratou uma Garça, por uma grande soma em dinheiro, para ela colocar a cabeça dentro da sua garganta e de lá retirar o osso.
Quando a Garça retirou o osso, e pediu o pagamento que tinham combinado, o Lobo, rangendo os dentes, exclamou:

– Ora, Ora! Você já foi recompensada, ao ser permitido que sua cabeça saisse a salvo de dentro da boca e mandíbulas de um Lobo.

Moral: Ao servir a alguém de má índole, não espere recompensas, e agradeça se depois disso ele não o prejudicar.

Esopo

4. As árvores e o machado

Um lenhador foi até a floresta pedir às árvores que lhe dessem um cabo para seu machado. As árvores acharam que não custava nada atender ao pedido do lenhador e na mesma hora resolveram fazer o que ele queria. Ficou decidido que o freixo, que era uma árvore comum e modesta, daria o que era necessário. Mas, assim que recebeu o que tinha pedido, o lenhador começou a atacar com seu machado tudo o que encontrava pela frente na floresta, derrubando as mais belas árvores. O carvalho, que só se deu conta da tragédia quando já era tarde demais para fazer alguma coisa, cochichou para o cedro:

– Foi um erro atender ao primeiro pedido que ele fez. Por que fomos sacrificar nosso humilde vizinho? Se não tivéssemos feito isso, quem sabe viveríamos muitos e muitos anos!

Moral: Quem trai os amigos pode estar cavando a própria cova.

Esopo

5. O Cachorro e sua Sombra

Um cachorro com um pedaço de carne roubada na boca estava atravessando um rio a caminho de casa quando viu sua sombra refletida na água.

Pensando que estava vendo outro cachorro com outro pedaço de carne, ele abocanhou o reflexo para se apropriar da outra carne, mas quando abriu a boca deixou cair no rio o pedaço que já era dele.

Moral: a cobiça não leva a nada.

Esopo

6. A mula

Uma mula, folgadona devido à ausência de trabalho e por causa da grande quantidade de milho que recebia, galopava de um lado para o outro de um modo arrogante. Vaidosa e muito confiante, dizia para si mesmo:

– Meu pai com certeza era um valoroso e belo raça pura. Eu sou sua própria imagem em velocidade, resistência, espírito e beleza.

Pouco tempo depois, sendo levado a uma longa jornada como burro de carga, e sentindo-se muito cansada, exclamou em tom desconsolado:

– Acho que cometi um erro. Meu pai, afinal de contas, deve ter sido apenas um simples asno.

Moral: Ao desejarmos ser o que não somos, estamos plantando em nós a semente da frustração.

Esopo

7. A cabra e o asno

Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse:

– Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te deem umas férias.

Aceitou o asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo.

Vendo-o, o amo chamou o veterinário e pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que o asno necessitava de uma infusão com o pulmão de uma cabra, pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então degolaram a cabra e assim curaram o asno.

Moral: Em todo plano de maldade, a vítima principal sempre é seu próprio criador.

Esopo

8. O Corvo e o Jarro

Um corvo que estava sucumbindo com muita sede encontrou um jarro, e, na esperança de achar água, voou até ele com muita alegria.
Quando o alcançou, descobriu para sua tristeza que o jarro continha tão pouca água em seu interior que era impossível tirá-la de dentro.
Ele tentou de tudo para alcançar a água que estava dentro do jarro, mas todo seu esforço foi em vão.

Por último ele pegou tantas pedras quanto podia carregar, e colocou-as uma-a-uma dentro do jarro, até que o nível da água ficasse ao seu alcance e assim salvou sua vida.

Moral: A necessidade é a mãe das invenções.

Esopo

9. O HOMEM E O LEÃO

Viajavam juntos um homem e um leão. O homem disse:

─ Eu sou mais forte que você!

O leão disse:

─ Eu sou mais forte que você!

No meio da discussão, o homem viu uma estátua que representava um homem esganando um leão.

─ Olhe lá! – disse ele. – Veja como o homem é mais forte! Aquela estátua prova que eu estou com a razão!

O leão retrucou:

─ Se a estátua tivesse sido feita por um leão, seria o leão quem estaria esganando o homem!

Moral: O fim de uma história sempre depende de quem a conta.

ESOPO. O homem e o leão. In: FIGUEIREDO, Guilherme (Trad.). Fábulas de Esopo. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.

10. O Lobo e o Cão

Encontrando-se um Lobo e um Cão num caminho, disse o Lobo:

— Tenho inveja, companheiro, de te ver tão gordo, com o pescoço grosso e o cabelo luzidio; eu ando sempre magro e desgrenhado.

Respondeu o Cão:

— Se fizeres o que eu faço, também tu engordarás. Estou numa casa onde gostam muito de mim, dão-me de comer, tratam-me bem; e só tenho de ladrar quando sinto ladrões de noite. Por isso, se quiseres, vem comigo que terás outro tanto.

O Lobo aceitou e lá foram. Mas no caminho disse o Lobo:

— O que é isso, companheiro, que te vejo o pescoço esfolado?

Respondeu o Cão:

— Para que durante o dia não morda os que entram em casa, prendem-me com uma corrente. De noite soltam-me até de manhã, quando tornam a prender-me.

— Não quero a tua fartura — respondeu o Lobo. — A troco de não estar preso, antes quero trabalhar e passar fome, mas ser livre.

E dizendo isto foi-se embora.

Moral: Não há prata nem ouro que valham mais do que a liberdade, e quem a estima faz o que fez este Lobo, que escolhe antes trabalhos e fome que perde-la. Comedores negligentes e sem préstimo não prezam ser livres, desde que comam o pão, e tais são representados nesta Fábula pelo Cão.

Esopo

11. As Lebres e as Rãs

O Sábio nunca se guia pelas Aparências…

As lebres, animais tímidos por natureza, sentiam-se oprimidas diante de tanto acanhamento.

E como viviam, na maior parte do tempo, com medo de tudo e de todos, temendo até a própria sombra, frustradas e cansadas, resolveram dar um fim às suas angústias.

Então, de comum acordo, decidiram pôr fim às suas vidas. Concluíram que esta seria a única saída para tamanho impasse, e que apenas assim resolveriam, de forma definitiva, todos os seus problemas e limitações.

Combinaram então que se jogariam do alto de um penhasco, para as escuras e profundas águas de um lago.

Assim, quando correm para o lago, várias Rãs que descansavam ocultas pela grama à margem do mesmo, tomadas de pavor ante o ruído de suas pisadas, desesperadas, pulam na água em busca de proteção.

Ao ver o pavor que sentiam as Rãs em fuga, uma das Lebres se volta e diz às companheiras: “Não mais devemos fazer aquilo que combinamos minhas amigas, pois agora sabemos que existem criaturas ainda mais medrosas que nós…”

Moral da História 1: Julgar que nossos problemas são os mais importantes do mundo é a maior das ilusões…

Moral da História 2: A ignorância só é capaz de produzir mais ignorância…

Esopo

12. O Rato e a Ratoeira

Numa planície da Ática, perto de Atenas, morava um fazendeiro com sua mulher; ele tinha vários tipos de cultivares, assim como: oliva, grão de bico, lentilha, vinha, cevada e trigo. Ele armazenava tudo num paiol dentro de casa, quando notou que seus cereais e leguminosas, estavam sendo devoradas pelo rato. O velho fazendeiro foi a Atenas vender partes de suas cultivares e aproveitou para comprar uma ratoeira. Quando chegou em casa, adivinha quem estava espreitando?

Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali.

Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.

Correu para a esplanada da fazenda advertindo a todos:

— Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa !!

A galinha disse:

— Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

O rato foi até o porco e disse:

— Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!

— Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranquilo que o Sr. Será lembrado nas minhas orações.

O rato dirigiu-se à vaca. E ela lhe disse:

— O que? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!

Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira pegando sua vítima.

A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.

No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher… O fazendeiro chamou imediatamente o médico, que avaliou a situação da esposa e disse: sua mulher está com muita febre e corre perigo.

Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal.

Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.

Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.

A mulher não melhorou e acabou morrendo.

Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.

Moral: “Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos.”

Esopo

13. A GRALHA RAIVOSA

Júpiter deu a notícia de que pretendia escolher um rei para os pássaros e marcou uma data para que todos eles comparecessem diante de seu trono. O mais bonito seria decretado rei.

Querendo arrumar-se o melhor possível, os pássaros foram tomar banho e alisar as penas às margens de um arroio. A gralha também estava lá no meio dos outros, só que tinha certeza de que nunca ia ser a escolhida porque suas penas eram muito feias.

“Vamos ter que dar um jeito”, pensou ela.

Depois que os outros pássaros foram embora, muitas penas ficaram caídas pelo chão; a gralha recolheu as mais bonitas e prendeu em volta do corpo. O resultado foi deslumbrante: nenhum pássaro era mais vistoso que ela. Quando o dia marcado chegou, os pássaros se reuniram diante do trono de Júpiter; Júpiter examinou todo mundo e escolheu a gralha para rei. Já ia fazer a declaração oficial quando todos os outros pássaros avançaram para o futuro rei e arrancaram suas penas falsas uma a uma, mostrando a gralha exatamente como ela era.

Moral da história: Belas penas não fazem belos pássaros.

Esopo

14. A RAPOSA E A CEGONHA

Um dia a raposa convidou a cegonha para jantar. Querendo pregar uma peça na outra, serviu sopa num prato raso. Claro que a raposa tomou toda a sua sopa sem o menor problema, mas a pobre cegonha, com seu bico comprido, mal pôde tomar uma gota. O resultado foi que a cegonha voltou para casa morrendo de fome.
A raposa fingiu que estava preocupada, perguntou se a sopa não estava do gosto da cegonha, mas a cegonha não disse nada. Quando foi embora, agradeceu muito a gentileza da raposa e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte.
Assim que chegou, a raposa se sentou lambendo os beiços de fome, curiosa para ver as delícias que a outra ia servir. O jantar veio para a mesa numa jarra alta, de gargalo estreito, onde a cegonha podia beber sem o menor problema. A raposa, amoladíssima, só teve uma saída: lamber as gotinhas de sopa que escorriam pelo lado de fora da jarra.
Ela aprendeu muito bem a lição. Enquanto ia andando para casa, faminta, pensava: “Não posso reclamar da cegonha. Ela me tratou mal, mas fui grosseira com ela primeiro.”

Moral: trate os outros tal como deseja ser tratado.

Esopo
Fábulas de Esopo. Tradução de Heloísa Jahn, São Paulo,
Companhia das Letrinhas, 1994.

15. O URSO E AS ABELHAS

Um urso topou com uma árvore caída que servia de deposito de mel para um enxame de abelhas. Começou a farejar o tronco quando uma das abelhas voltou do campo de trevos. Adivinhando o que ele queria, deu uma picada daquelas no urso e depois desapareceu no buraco do tronco. O urso ficou louco de raiva e se pôs a arranhar o tronco com as garras na esperança de destruir o tronco. A única coisa que conseguiu foi fazer o enxame inteiro sair atrás dele. O urso fugiu a toda velocidade e só se salvou porque mergulhou de cabeça num lago.

Moral: Mais vale suportar um só ferimento em silencio que perder o controle e acabar todo machucado.

Esopo

16. O pavão e a garça

Era uma vez um pavão muito orgulhoso e vaidoso. Ele se gabava diante de todos de suas belas penas. Se chovia, ele ficava olhando seu reflexo empoças.

— Olhem só para a minha cauda! – dizia ele. – Vejam as cores das minhas penas. Como sou bonito! Devo ser a mais bela ave do mundo!

Dizendo isso, ele abria a cauda como um leque e ficava esperando que alguém aparecesse para admirá-lo.

As outras aves ficaram cansadas da pretensão do orgulhoso pavão e tentaram imaginar uma maneira de fazê-lo parar com aquilo. Foi a grande ave chamada garça que teve uma ideia.

— Deixem comigo – disse ela às outras. – Vou fazer o vaidoso pavão de tolo.

Certa manhã, a garça passou pelo pavão. Como sempre, ele estava exibindo orgulhosamente suas penas.

— Vejam como sou belo! – exclamava ele. – Você é tão sem encantos e embotada, Garça. Por que não tenta ser um pouco mais esperta?

— Suas penas podem ser mais bonitas do que as minhas – disse a garça calmamente – Mas vejo que você não pode voar. Suas belas penas não são fortes o suficiente para levantá-lo do chão. Posso ser embotada, mas as minhas asas podem me levar para o céu!

Moral: “Podemos perder de um lado, mas ganhar de outro”.

Esopo

17. O Lobo e o Carneiro

Um dia um lobo encontrou um carneirinho que se afastara do rebanho. O lobo precisava de uma boa razão para devorá-lo e ele disse:

— Você é o carneirinho que me insultou no ano passado!

— Não – disse o carneirinho. – No ano passado eu ainda não tinha nascido…

— Então você é o carneirinho que comeu a grama das minhas pastagens!

— Não – retrucou o carneirinho. – Sou tão pequeno que ainda não como grama.

— Então você é o carneirinho que bebeu no meu poço!

— Não – respondeu ainda o carneirinho. – Não preciso de água porque bebo o leite de minha mãe.

O lobo saltou sobre o carneirinho, urrando:

— De qualquer modo, vou devorar você!

Moral das História – “O tirano usa qualquer desculpa.”.

Esopo

18. O Galo e a Raposa

No meio dos galhos de uma árvore bem alta, um galo estava empoleirado e cantava a todo volume. Sua voz esganiçada ecoava na floresta. Ouvindo aquele som tão conhecido, uma raposa que estava caçando se aproximou da árvore. Ao ver o galo lá no alto, a raposa começou a imaginar algum jeito de fazer o outro descer. Com a voz mais boazinha do mundo, cumprimentou o galo dizendo:
— Ó meu querido primo, por acaso você ficou sabendo da proclamação de paz e harmonia universal entre todos os tipos de bichos da terra, da água e do ar? Acabou essa história de ficar tentando agarrar os outros para come-los. Agora vai ser tudo na base do amor e da amizade. Desça para a gente conversar com calma sobre as grandes novidades!
O galo, que sabia que não dava para acreditar em nada do que a raposa dizia, fingiu que estava vendo uma coisa lá longe. Curiosa, a raposa quis saber o que ele estava olhando com ar tão preocupado. – Bem, disse o galo -, acho que estou vendo uma matilha de cães ali adiante.
— Nesse caso é melhor eu ir embora – disse a raposa.
— O que é isso, prima? – disse o galo.
— Por favor, não vá ainda! Já estou descendo! Não vá me dizer que está com medo dos cachorros neste tempo de paz?!
— Não, não é medo – disse a raposa -, mas… e se eles ainda não estiverem sabendo da proclamação?

Moral: Cuidado com as amizades muito repentinas.

Fonte: Fábulas de Esopo. Trad. Heloisa Jahn. São Paulo,
Companhia das Letrinhas, 1999. p.22. 23

19. O gato, o galo e o ratinho

Um ratinho vivia num buraco com sua mãe. Depois de sair sozinho pela primeira vez, contou a ela:

— Mãe, você não imagina os bichos estranhos que encontrei! Um era bonito e delicado, tinha um pelo muito macio e um rabo elegante, um rabo que se movia formando ondas. O outro era um monstro horrível.

No alto da cabeça e debaixo do queixo ele tinha pedaços de carne crua, que balançavam quando ele andava. De repente os lados do corpo dele se sacudiram e ele deu um grito apavorante. Fiquei com tanto medo que fugi correndo, bem na hora que ia conversar um pouco com o simpático.

— Ah, meu filho! – respondeu a mãe. – Esse seu monstro era uma ave inofensiva; o outro era um gato feroz, que num segundo teria te devorado.

Moral: Jamais confie nas aparências.

ESOPO. O gato, o galo e o ratinho. In:______. Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994.

20. O Camponês e a Serpente

Não há boa ação capaz de desfazer os efeitos já consumados de uma má ação…

Um agricultor, homem simples do campo, caminhava pela sua pequena propriedade numa bucólica manhã de inverno a examinar seu plantio, quando, sobre o chão ainda coberto pela neve da noite anterior, viu uma Serpente que jazia completamente enrijecida e congelada pelo intenso frio.

E embora soubesse o quanto aquela Serpente poderia ser mortal, ainda assim, comovido pelo estado da pobre criatura, pegou-a com cuidado, e com a intenção de aquecê-la e salvar sua vida, colocou-a no bolso do seu casaco.

E em pouco tempo, a Serpente, aquecida naquele confortável ambiente que a protegia do frio, foi recuperando suas forças. Ao sentir-se viva outra vez, colocou a cabeça para fora do bolso do sobretudo daquele homem que lhe salvara a vida e mordeu seu braço. E ao sentir a inesperada picada, o lavrador logo se deu conta da gravidade daquele ferimento. E caindo desfalecido pelo efeito do mortal veneno, sabia que apenas poucos minutos de vida lhe restavam.

E em seu último suspiro, ergueu com dificuldade a cabeça, e disse:

— “Aprendi com o meu trágico destino, que nunca deveria apiedar-me de alguém que por natureza já nasceu mau…”

Moral da História 1: Do ponto de vista de um ingrato, não há boa ação que o favoreça, nem benfeitor que o apeteça…

Moral da História 2: Maldade de berço não se corrige com reza nem terço…

Esopo

21. OS VIAJANTES E O URSO

Dois amigos viajavam juntos pelo mesmo caminho, quando um urso apareceu-lhes de repente.

O homem que ia na frente subiu numa árvore e lá se escondeu, e o outro, estando para ser apanhado, caiu ao chão e fingiu-se de morto.

Quando o urso aproximou dele o focinho e o revirou de todos os lados, ele reteve a respiração, pois dizem que o urso não toca em animal morto.

Depois que o urso se afastou, o homem que estava na árvore desceu e perguntou o que o urso lhe havia dito ao ouvido.

E o outro disse:

— “Ele me aconselhou a não mais viajar daqui para frente com aqueles amigos que não ficam por perto na hora do perigo”.

Moral da história: As desgraças põem à prova os verdadeiros amigos.

ESOPO. Fábulas completas. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004. p. 143.

22. O Leão e o Javali

Num dia muito quente, um leão e um javali chegaram juntos a um poço. Estavam com muita sede e começaram a discutir para ver quem beberia primeiro. Nenhum cedia a vez ao outro. Já iam atracar-se para brigar, quando o leão olhou para cima e viu vários urubus voando.

– Olhe lá! – disse o leão. – Aqueles urubus estão com fome e esperam para ver qual de nós dois será derrotado…

– Então é melhor fazermos as pazes – respondeu o javali. – Prefiro ser seu amigo a ser comida de urubus.

Moral: Diante de um perigo maior, é melhor esquecermos as pequenas rivalidades

Esopo

23. O leão e as outras feras

Certo dia o leão saiu para caçar junto com três outras feras, e os quatro pegaram um veado. Com a permissão dos outros, o leão se encarregou de repartir a presa e dividiu o veado em quatro partes iguais. Porém, quando os outros foram pegar seus pedaços, o leão falou:

— Calma, amigos. Este primeiro pedaço é meu, porque é o meu pedaço. O segundo também é meu, porque sou o rei dos animais. O terceiro vocês vão me dar de presente para homenagear minha coragem e o sujeito maravilhoso que eu sou. E o quarto… Bom, se alguém aí quiser disputar esse pedaço comigo na luta, pode vir que eu estou pronto. Logo, logo a gente fica sabendo quem é o vencedor.

Moral: Nunca forme uma sociedade sem primeiro saber como será a divisão dos lucros.

Fábulas de Esopo. São Paulo, Companhia das Letras, 1994. p. 32. Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – 2ª edição – Atual Editora -1998 – p. 220-1.

24. A CIGARRA E AS FORMIGAS

Num belo dia de inverno as formigas estavam tendo o maior trabalho para secar suas reservas de trigo. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham ficado completamente molhados. De repente aparece uma cigarra:

– Por favor, formiguinhas, me deem um pouco de trigo! Estou com uma fome danada, acho que vou morrer.

As formigas pararam de trabalhar, coisa que era contra os princípios delas, e perguntaram:

– Mas por quê? O que você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o inverno?

– Para falar a verdade, não tive tempo – respondeu a cigarra. – Passei o verão cantando!

– Bom… Se você passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando? – disseram as formigas, e voltaram para o trabalho dando risada.

MORAL: Os preguiçosos colhem o que merecem.

Esopo

ASH, Russell. HIGTON, Bernard. Fábulas de Esopo.7. ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994

25. O gato e a raposa

O gato e a raposa andavam sempre juntos pelo mundo. Eram muito amigos, apesar de a raposa estar sempre desvalorizando o colega.

— Amigo gato, por que não aprende mais truques para fugir dos cachorros que nos perseguem? Sempre ouvi dizer que você é tão inteligente. Será verdade?

— Sei subir rapidamente em árvores. É o que me basta. Os cachorros não vão me pegar.

— Você só sabe isso? Eu sei 99 truques diferentes! Conheço mil manhas, cada uma melhor que a outra. Finjo-me de morta, me escondo nas folhas secas, nas moitas, corro em ziguezague, disfarço minhas pegadas…

Enquanto a raposa falava distraidamente das suas habilidades se aproximavam dali dois cachorros. O gato muito esperto, subiu rapidamente na árvore. Quando a raposa percebeu a presença dos cachorros, teve que sair em disparada para fugir deles.

— Pobre comadre raposa. É sempre preferível saber bem uma só coisa a saber mal noventa e nove coisas diversas.

Moral: Bom senso sempre vale mais que astúcia…

Esopo

26. As rãs que queriam ter um rei

Em tempos que já lá vão, quando as rãs viviam à solta nos lagos, elas cansaram-se de não terem governo e pediram a Júpiter que lhes desse um rei que pudesse dizer-lhes o que estava certo e o que estava errado, fazer leis e decretar recompensas e castigos.

Desdenhando a loucura delas, Júpiter atirou-lhes um pau, dizendo com a voz trovejante:

— “Eis o vosso rei!”

O pau causou um tal reboliço ao cair na água que as rãs entraram em pânico e dirigiram-se para o lodo, a fim de se esconderem. Passado um momento, uma rã, mais destemida do que as outras, levantou a cabeça, à procura do novo rei.

Até subiu para cima do pau… e as outras seguiram-na. Em breve tinham perdido o medo e isto levou-as a desprezar o seu novo “rei”.

— “Este rei”, disseram elas a Júpiter, “é muito frouxo. Por favor, manda-nos um que tenha autoridade.”

Então, Júpiter mandou-lhe uma cegonha e, durante muito tempo, as rãs, vendo o seu longo pescoço, ficaram sem saber se seria uma serpente ou uma cegonha. Então, a cegonha começou a comer as rãs, que fugiram e foram queixar-se a Júpiter, pedindo-lhe que a levasse e lhes desse outro rei.

— “Se não estão contentes quando as coisas correm bem”, disse Júpiter, “têm de ter paciência quando as coisas correm mal.”

Moral da história: Satisfaz-te com a tua situação atual, mesmo que seja má, porque uma mudança pode piorar as coisas ainda mais.

Fábulas de ESOPO. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

27. O SAPO E O BOI

Há muito, muito tempo, existiu um boi imponente. Um dia, o boi estava dando seu passeio da tarde quando um pobre sapo todo mal vestido olhou para ele e ficou maravilhado. Cheio de inveja daquele boi que parecia o dono do mundo, o sapo chamou os amigos.
— Olhem só o tamanho do sujeito! Até que ele é elegante, mas grande coisa: se eu quisesse também era.
Dizendo isso o sapo começou a estufar a barriga e em pouco tempo já estava com o dobro de seu tamanho natural.
— Já estou grande que nem ele? – perguntou aos outros sapos.
— Não, ainda está longe! – responderam os amigos.
O sapo se estufou mais um pouco e repetiu a pergunta.
— Não – disseram de novo os outros sapos –, e é melhor você parar com isso porque senão vai acabar se machucando.
Mas era tanta a vontade do sapo de imitar o boi que ele continuou se estufando, estufando, estufando – até estourar.

Moral: Seja sempre você mesmo.

Fábulas de Esopo. Compilação de Russell Ash e Bernand Higton. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994, p. 14.

28. A Andorinha e as outras Aves

Estavam os homens a semear linho, e, ao vê-los, disse a Andorinha aos outros pássaros:

— Para nosso mal fazem os homens esta seara, que desta semente nascerá linho, e dele farão redes e laços para nos prenderem. Melhor será destruirmos a linhaça e a erva que dali nascer, para estarmos seguras.

As outras Aves riram-se muito deste conselho e não quiseram segui-lo. Vendo isto, a Andorinha fez as pazes com os homens e foi viver em suas casas. Algum tempo depois, os homens fizeram redes e instrumentos de caça, com os quais apanharam e prenderam todas as outras aves, poupando apenas a Andorinha.

Moral da história: A Andorinha representa o homem prudente, que fica livre de dificuldades se consegue antecipá-las. Os que querem viver a seu gosto, sem ouvirem conselhos nem preverem o mal que está para vir, são caçados e castigados devido à sua ignorância.

Esopo

29. O URSO E A RAPOSA

Um urso passava o tempo contando como gostava dos homens. Não vou lá perturbar nem estraçalhar os homens quando eles morrem disse ele.

A raposa respondeu com um sorriso: Eu ia ficar mais convencida de sua bondade se você não costumasse comer os homens vivos.

Moral: mais vale ter pena dos vivos que respeito com os mortos.

Fábulas de Esopo. Compilação de Russell ash e Bernard Higton. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994, p. 57.

30. O Asno e a carga de sal

Um asno carregado de sal atravessava um rio. Um passo em falso e ei-lo dentro da água. O sal então derreteu e o asno se levantou mais leve. Ficou todo feliz. Um pouco depois, estando carregado de esponja às margens do mesmo rio, pensou que se caísse de novo ficaria mais leve e caiu de propósito nas águas. O que aconteceu? As esponjas ficaram encharcadas e, impossibilitado de se erguer, o asno morreu afogado.

MORAL: Algumas pessoas são vítimas de suas próprias artimanhas.

Esopo

Gostou? Então aproveite para conferir 46 Fábulas Pequenas com moral e interpretação ou 14 Fábulas Infantis.

Outras Fontes:

Esopo. Fábulas. Porto Alegre: L&M Pocket, 1997, p. 139-140.

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