Reflexão

Estoicismo: A arte de não sofrer

“Só há um caminho para a felicidade (que isso esteja presente no teu espírito dia e noite): é renunciar às coisas que não dependem da nossa vontade.”
A primeira vista esta citação parece uma frase pronta e vazia. E tudo piora depois de saber que quem a disse isso foi Epicteto, mais um filósofo grego de nome esquisito que viveu em um período anterior a Cristo, totalmente distante da realidade atual.

Mas Epicteto não foi apenas um filosofo grego que passava o dia todo enrolado em um lençol bebendo vinho e filosofando sobre as dificuldades da vida. Epicteto escolheu a felicidade apesar de ter passado a maior parte da vida como escravo e sendo tratado com bastante crueldade. Afinal, como mostra a história, escravos não costumam ser tratados com beijos, abraços e leite ninho.

Epicteto é um dos principais representantes da Filosofia Estoica. E para você que sentiu uma ponta de tédio ao ler a palavra “filosofia” pensando que agora virá um blá blá blá mais difícil de entender que as letras do Chico Buarque, relaxa: a filosofia estoica é prática, objetiva e incrivelmente atual, recebendo cada vez mais adeptos nos dias de hoje.

O ponto central do estoicismo é o seguinte:

Como ser feliz em um mundo imprevisível? Por mais que nos esforcemos, nós não temos controle de tudo o que nos cerca. Não podemos controlar o que as pessoas nos dizem, a poluição do ar, a situação econômica mundial ou o horrível final de Game of Thrones. As coisas acontecem indiferente de nossa vontade.

“O que importa não é o que acontece, mas como você reage.” – Epicteto

A única coisa que podemos controlar de verdade são os nossos pensamentos e nossas ações, outras coisas estão alheias a nossa vontade. Por exemplo:

Imagina que você vai receber alguns amigos e decide impressionar o pessoal fazendo uma sobremesa da internet, daquelas que sempre planejamos fazer mas nunca fazemos porque são caras como pagar frete dos correios. Para não ter miséria, todos os ingredientes são de marca famosa e você acaba gastando seu rico dinheirinho. Você segue toda a receita a risca, mede cada colher de sopa, conta os minutos de cada procedimento. Mas valeu a pena, sua sobremesa tá linda e gostosa morando na geladeira pois ela precisa ser refrigerada.

E então o pior acontece:

Um terremoto? Alguém entra armado na sua casa? Não!!! Uma queda de luz no bairro arruina a sobremesa ostentação. Seus amigos chegam e seu prato tá mais feio que pisar no rabo do cachorro.

O que você pode fazer?

Pela sobremesa absolutamente nada. A culpa não foi sua, você não tem controle da energia elétrica. A única coisa que você pode controlar nesse momento é como você vê a situação e como reagirá a frustração. E se sofrer pelo creme de leite derramado for apenas uma escolha? E se você escolher apenas levar a situação na esportiva?

“A idéia é diferenciar a experiência externa (o que está fora da nossa mente) da experiência interna (nossas reações e interpretações a experiência externa). Basicamente é separar o que podemos controlar do que não podemos controlar para então gastarmos nossa energia apenas com o que podemos controlar.”Canal Epifania Experiência.

Então tá bom, tudo muito bonito, tudo muito legal mas como fazer isso? Porque na hora do “vamô vê” as coisas não são tão simples, bate uma tristeza ou sobe uma raiva que leva tudo ladeira abaixo.

Esses sentimentos surgem através das nossas emoções, que os Estoicos classificam em 3 categorias:

  1. Emoções boas
  2. Emoções indiferentes.
  3. Emoções ruins

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o Estoicismo não orienta ignorar as emoções ruins até elas evaporarem como um pum no elevador. A proposta é colocar foco nessas emoções pouco saudáveis e aprender a lidar com elas. As emoções ruins vem de uma visão a respeito de algo ruim que aconteceu. Mas você pode mudar sua opinião sobre as coisas, porque são essas opiniões que vão gerar nossas emoções mais fortes.

“Em vez de tentar suprimir (essas emoções), devemos confrontar as crenças que levam a elas, transformando-as em emoções saudáveis (emoções boas)”, explica o filósofo e psicoterapeuta escocês Donald Robertson.

Já as emoções indiferentes seriam reações emocionais involuntárias que, na minha humilde opinião, podem ser regidas pelo temperamento (não sabe o seu temperamento? Clique aqui para descobrir). São as emoções que surgem como primeira reação aos acontecimentos antes mesmo de você pensar direito:

“Para os estóicos, essa não é uma emoção completa, não está inteiramente sob o seu controle. Então, eles dizem que, em vez de lutar contra elas, você deve encará-las como naturais, inevitáveis. Devem ser vistas com indiferença.”

E para quem tá achando o estoicismo um papo de pessoas passivas e conformistas…

Marco Aurélio foi outro grande representante da filósofa estoica. Esse cara com nome de dicionário foi o oposto de um hippie Paz e Amor, Marquito era general e imperador Romano que enfrentou diversas guerras violentas com seu povo, sendo obrigado a fazer escolhas difíceis por toda a vida. E ele foi tão bom nisso tudo que é considerado o último dos cinco bons imperadores. Nenhum conformista consegue uma biografia tão impressionante.

A idéia é o contrário de aceitar tudo e não fazer nada: aceite APENAS as coisas que estão além do seu controle e que já aconteceram. Lute com toda a força para mudar o que você pode. 
A Filosofia Estoica vai muito além do que escrevi, essa é apenas uma humilde introdução que espero ter sido didática. Sei que ficou longa e já admiro você que chegou até o final kkkk 😉 Mas como se não fosse texto suficiente, te deixo com essa incrível reflexão do nosso amigo Marquito:
“Começa a manhã dizendo a ti mesmo: hoje eu me encontrarei com um homem intrometido, um ingrato, um arrogante, um enganador, um invejoso, um antissocial. Todas estas coisas acontecem a eles por causa de sua ignorância do que é bom e do que é mal. Mas eu que compreendo a natureza do bem (que é desejável) e do mal (que é verdadeiramente odioso e vergonhoso), que sei, além disso, que este transgressor é meu parente – não pelo mesmo sangue e semente, mas por participação da mesma razão e da mesma partícula divina – eu não posso nem ser prejudicado por qualquer deles, pois ninguém pode me fazer incorrer no que é reprovável, nem posso me irar contra eles, cuja natureza é tão próxima da minha. Porque nascemos para a cooperação, como os pés, como as mãos, como as pálpebras, como as fileiras dos dentes superiores e inferiores. Agir um contra o outro, então, é contrário à natureza; e odiá-los ou rejeitá-los é agir um contra o outro”.
Texto escrito pela equipe Refletir para Refletir. Para reproduzi-lo informe sempre a fonte.

Vídeo muito bom sobre Estoicismo:

Gostou? Deixe um comentário abaixo! Sua opinião é muito importante para nós e possibilita a edição de assuntos voltados cada vez mais para os seus interesses.

© 2012 - 2024 Refletir para Refletir.Todos os direitos reservados.